Não é possível!
- Sílvia Gião
- 16 de mar. de 2020
- 2 min de leitura

Vociferas tu com uma tal violência que rasga o teu peito.
És incapaz de conter esse grito de dor, com sabor a medo, que sai do âmago do teu ser, envolto num misto de incredibilidade e de revolta, enquanto constatas que o teu cérebro ficou perdido, já não existe, ficou lá atrás, no emaranhado cristalizado do anúncio de calamidade.
O teu raciocínio, essa função ainda há pouco tão aguçada e presente, agora parece que nunca fez parte, ou talvez seja uma breve lembrança de um outro humano, já não habita em ti.
Ficou lá atrás, num tempo sem tempo, refém do vazio aterrador do movimento centrífugo imposto pelo labirinto da quarentena.
Esse vazio, acompanhado de silêncio e de ausência humana, que tão brutalmente é prenuncio de uma profunda mudança, ocupou a totalidade de tudo o que antes era conhecido, instalando-se por todo o mundo, nesse fragmento de tempo, neste Março que se fez história planetária.
- Tudo passa e isto vai passar também. Afinal, eras tu feliz nessa versão de humano? Apaixonava-te a vida que tu repetias, dia a dia, na ilusão do teu pensamento que pensava que vivias? Não viverias tu, quiçá, uma sequência de uma qualquer liberdade programada, ao ritmo de um padrão desenhado para te manter adormecido, longe da tua potencialidade criadora? Não eras tu que sonhavas com um mundo livre, bondoso e justo? Nada vai ser igual ao que era antes! Confia!
Enquanto caminhavas ao longo do corredor da tua casa, alheado do eco do teu grito, eis que vai renascendo um novo SER humano.
Sem ainda sequer perceberes o que te está a acontecer ( muito menos ao teu redor), o teu rosto se ilumina de uma paz contagiante.
Atónito, enormemente poderoso, integrado, vivenciando a perceção de teres descoberto um novo cérebro que se havia implantado no teu peito e a expansão de teres sido coroado por uma iluminada lucidez amorosa, ergues-te rugindo como um leão:
Não é possível!







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Há sem dúvida quem ame o infinito, Há sem dúvida quem deseje o impossível, Há sem dúvida quem não queira nada Três tipos de idealistas, e eu nenhum deles: Porque eu amo infinitamente o finito, Porque eu desejo impossivelmente o possível, Porque eu quero tudo, ou um pouco mais, se puder ser, Ou até se não puder ser...